Eleições 2018: balanço digital
As eleições 2018 acabaram. Temos um novo presidente, governadores, senadores e deputados estaduais e federais. Observando a dinâmica dos fatos, é possível afirmar que estas foram as eleições mais conectadas e digitalmente sociais da história. Nunca em nossa trajetória democrática os partidos e candidatos gastaram tanto com patrocínio de posts nas redes sociais ou em links patrocinados para divulgar seus planos de governo, por exemplo. Aliás, como você viu aqui no Blog da Tutto, estas foram as modalidades de investimento digital permitidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Agora, com o final do segundo turno, analisamos com calma os resultados das campanhas na web e as polêmicas digitais que marcaram o pleito. Vamos lá!
Fake News nas eleições 2018
Levante a mão quem não recebeu dezenas (centenas?) de mensagens acusando os principais candidatos nesta eleição de corrupção e outros crimes. As “Fake News” proliferaram-se principalmente nas redes sociais favoritas do brasileiro, o Facebook e o WhatsApp.
Analisando o posicionamento da rede social de Mark Zuckerberg, o Facebook divulgou em seu site oficial algumas ações práticas de combate às notícias falsas. A empresa confirmou que ao longo do período eleitoral, removeu 280 páginas, 229 perfis e 74 grupos que violaram suas políticas de SPAM e autenticidade. Para tal, utilizou inteligência artificial e revisão humana. Empresas que recrutaram e pagaram pessoas para distribuir conteúdos para candidatos também foram acionadas e tiveram contas suspensas.
O Facebook firmou parcerias com a Agência Lupa, Agence France-Press (AFP) e a empresa Aos Fatos para atestar a veracidade das notícias e de fontes que eram publicadas em sua rede social. Além disso, o programa de verificação de fatos “Comprova” foi ativado junto a outras 24 organizações de mídia brasileiras para atuar no combate às Fake News.
Robôs no WhatsApp?
E o que falar dos “Robôs” que enviaram mensagens via WhatsApp?
Segundo denúncia do jornal Folha de S.Paulo, na reta final do segundo turno, alguns partidos usaram e abusaram de“robôs” para o disparo de milhares de notícias falsas via WhatsApp, sobre os candidatos concorrentes. Sim, as famosas mensagens políticas que você recebeu durante as eleições 2018, no grupo de família ou do trabalho, foram contaminadas por inteligência artificial que manipularam as informações para favorecer determinado candidato. Esta é uma prática ilegal e um processo foi aberto junto ao TSE para verificar quais foram as empresas envolvidas e os valores investidos neste tipo de ação.
De acordo com a denúncia, partidos políticos pagaram empresas especializadas no envio de mensagens em massa que visavam a denegrir candidatos opositores. Em termos técnicos, os robôs são “bots” que criam linhas de códigos e disparam milhões de mensagens para determinados públicos. Tais empresas criaram números falsos, simulando pessoas de verdade, e enviaram mensagens de ataque a milhões de pessoas reais, que já estavam em sua base de dados. Cada mensagem tinha um valor estipulado, segundo a Folha de S. Paulo, que podia variar de R$ 0,08 a R$0,40, dependendo da base/público que desejavam alcançar.
Como a notícia ganhou grande repercussão em todas as esferas da sociedade, manifestações de figuras importantes ganharam destaque. “A desinformação deliberada ou involuntária que visa ao descrédito há de ser combatida com informação responsável e objetiva, tudo com a transparência que exige um estado democrático de direito”, defendeu Rosa Weber, ministra do STF e presidente do TSE.
Veracidade das notícias
Segundo pesquisa realizada pela Datafolha, 47% das informações divulgadas e repassadas via WhatsApp foram consideradas verdadeiras pelo público. A mesma pesquisa, por outro lado, aponta que somente 8% dos conteúdos foram realmente verdadeiros. O levantamento analisou 347 grupos de WhatsApp entre 16 de setembro e 7 de outubro.
Facebook e Twitter: as eleições das redes sociais
Em um passado recente, o tempo de televisão que cada partido possuía para expor ideias e apresentar candidatos era algo de grande disputa. Historicamente, as alianças entre partidos sempre eram formadas com este objetivo: ter mais tempo na TV. Porém, nestas eleições 2018 o cenário mudou. Segundo o cientista político Benício Schmidt, da UnB, em entrevista à TV Senado, as redes sociais assumiram a dianteira neste quesito:
“O tempo televisivo de cada partido não é mais tão impactante junto ao eleitor. As redes sociais assumiram esta função, foram predominantes. Elas se comunicam mais diretamente.”
“Foram eleições atípicas e ocorreu uma grande oxigenação do quadro político nacional, principalmente pela eleição de candidatos novos, que não vinham da ‘velha política’ e que souberam utilizar muito bem as redes sociais”, também afirmou Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, o Diap.
Podemos comprovar esta mudança de paradigma com o resultado do primeiro turno. Geraldo Alckmin, do PSDB, firmou diversas coligações com partidos médios e pequenos para conseguir ampliar seu tempo na TV. O famoso “centrão” garantiu ao ex-governador paulista 6min3s de tempo de TV, em cada horário político obrigatório, cujo tempo total foi de 12 minutos e 30 segundos. Mesmo com quase 50% do tempo disponível para sua legenda, o tucano conseguiu “somente” 5% dos votos, terminando o primeiro turno na 4ª posição.
Na contramão, o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), não figurou nem entre os 6 primeiros candidatos com mais tempo de TV. Justamente por isso, focou esforços nas redes sociais, o que se comprovou uma estratégia muito eficaz.
Antes mesmo do primeiro turno, o Facebook disponibilizou uma ferramenta para que o público pudesse conhecer melhor os candidatos. O “Conheça Seu Candidato” ficou ativo durante o primeiro e segundo turnos. Dentro desta plataforma, inclusive, os candidatos puderam divulgar até 4 vídeos de resposta para algumas perguntas-chave, como:
- O que te motivou a concorrer a presidente / governador / senador?
- Se eleito, o que é mais importante aprovar nos primeiros 100 dias do seu mandato?
- Por que essas eleições são importantes?
O Facebook trabalhou em parceria com a ONG Transparência Brasil e não teve qualquer influência sobre estes conteúdos.
Também é interessante notar que o Facebook foi o meio escolhido pelo presidente eleito para fazer o seu discurso da vitória. Jair Bolsonaro, assim que a apuração nacional sacramentou sua vitória, iniciou uma “live” a partir de sua residência. Foram oito minutos de transmissão e 300.000 pessoas acompanhando ao vivo. Duas horas após, o vídeo contabilizava mais 2 milhões de visualizações e mais de 350.000 comentários.
Um detalhe curioso: a TV Globo dedicou sua programação de domingo para o acompanhamento e análise dos resultados, que chegavam pelo TSE. Porém, assim que Jair Bolsonaro iniciou sua live no Facebook, a emissora interrompeu a programação e deu espaço ao recém-eleito presidente, compartilhando o vídeo da rede social.

Imagem da transmissão ao vivo realizada pelo presidente eleito, logo após a divulgação do resultado final.
Mas afinal, por que o Facebook? Analisando a campanha e o teor de suas mensagens, o candidato sempre foi um crítico ferrenho do que chama de “mídia tradicional”. Reafirmou várias vezes, entre suas mensagens-chave, que seu público não acreditava em veículos consagrados e, por esta razão, concentrou suas ações nas redes sociais. Somente após o término da live é que falou com a TV Globo, outras emissoras e jornais.
O Twitter também foi um grande protagonista nas eleições 2018. Somente no dia da votação do primeiro turno, por exemplo, a rede social registrou 4.850.000 referências aos candidatos. Entre 19h e 22h, a média foi de 10 mil tweets por minuto. Os presidenciáveis mais mencionados no dia da votação:
- Jair Bolsonaro: 3.477.919
- Ciro Gomes: 1.345.236
- Fernando Haddad: 646.222
Interessante notar que o Twitter, que não é nem de longe a opção favorita do brasileiro, foi a rede social com mais menções no dia da votação do primeiro turno. O motivo? Esta é uma rede social que favorece o compartilhamento de comentários, o debate com outras pessoas e o acesso rápido a informações. É uma rede que oferece uma especial característica de reverberação de conteúdo publicado originalmente em outros meios, como TV (principalmente) e jornais.
Além disso, o Twitter foi palco do tão falado/esperado debate do segundo turno, já que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad não se enfrentaram diretamente em um nenhum veículo tradicional. O então candidato do PSL, fez questão de expor ideias e provocar o rival através da rede social, em posts praticamente diários. O petista, por sua vez, também respondia e cutucava o oponente. Veja um exemplo:
Outra curiosidade envolvendo a disputa via Twitter: pelo protocolo, o candidato derrotado “deve” telefonar ao vitorioso para reconhecer sua vitória. No mundo da política, inclusive, uma derrota só é confirmada após o reconhecimento da parte vencida. Porém, neste ano, o petista se recusou a ligar para o ex-capitão do exército. Somente no dia seguinte, via Twitter, é que ocorreu uma declaração oficial:
O Google se preparou muito bem para acompanhar as eleições 2018. Um site exclusivo foi criado para acompanhar em tempo real as pesquisas realizadas sobre os candidatos, partidos e temas. Agora, após o término do período eleitoral, podemos ter uma boa visão de como as pessoas procuraram informações, o que pesquisaram sobre cada candidato e muito mais. Confira abaixo os destaques e, se preferir, clique no destaque que lhe interessa para acessar o conteúdo no site original do Google.
Quais foram as pesquisas relacionadas ao candidato Jair Bolsonaro?
Quais foram as pesquisas relacionadas ao candidato Fernando Haddad?
Estas foram as pesquisas realizadas com o termo “Eleições 2018”, na última semana do segundo turno:
E mais: estes foram os temas que despertaram mais interesse ao longo de 2018:
Anúncios online: R$17,8 milhões só no primeiro turno
Este foi o valor informado pelo TSE sobre os gastos dos candidatos com anúncios online no primeiro turno. A quantia, comparativamente, representa apenas 1,6% dos gastos totais dos partidos em publicidade. Importante ressaltar que a grande fatia dos investimentos tem a TV como destino, já que é um espaço publicitário com preço mais elevado e o custo de produção de vídeos de campanha também é alto. Voltando à internet, dos 29 mil candidatos que concorreram a algum cargo nestas eleições, 2.110 investiram na divulgação nas redes sociais e na internet em geral.
O Facebook foi a rede social preferida dos partidos políticos nestas eleições 2018. Pouco mais de R$10 milhões (60% do total) foram investidos em posts patrocinados. Os partidos optaram pelos posts patrocinados pela facilidade na segmentação dos anúncios. Conseguiram, com isso, se comunicar diretamente com públicos distintos de diversas regiões brasileiras. Já o Google, através dos seus famosos e efetivos links patrocinados, declarou recebimento de R$943.000.
Considerando todo o valor gasto, de todos os candidatos, tivemos o seguinte cenário:
Dentre os presidenciáveis, os que mais gastaram com anúncios online (posts patrocinados ou links patrocinados) foram: Henrique Meirelles, do MDB, com R$877.050 e Lula (até a impugnação da candidatura) do PT com R$571.914,52. O top 3 ainda conta com Geraldo Alckmin, do PSDB, com R$300.000.
Vaquinhas virtuais
Quem é veterano nas redes sociais sabe que as vaquinhas virtuais (Crowdfunding) não são tão novas. Todavia, no mundo da política esta modalidade digital nunca fora utilizada, mesmo que historicamente os partidos e candidatos sempre receberam doações de pessoas físicas e jurídicas. Na disputa presidencial, dos 13 candidatos que iniciaram a corrida à Brasília, 10 conseguiram arrecadar quantias substanciais para desenvolverem suas campanhas.
Segundo as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral, cada doador pode destinar “apenas” R$1.064,10 nesta modalidade. No primeiro turno, o candidato que recebeu o maior montante via vaquinha virtual foi Jair Bolsonaro, com R$ 2.162.152,00 arrecadados. O Partido dos Trabalhadores declarou o recebimento de R$621.896,59 e João Amoêdo, do Partido Novo, R$585.467,00. Os valores foram divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral na segunda-feira seguinte à eleição, no dia 28/11.
Como será no futuro?
Ufa… Após meses de discussões acaloradas nas redes sociais, no grupo de WhatsApp da família e com os amigos da faculdade, finalmente as eleições 2018 acabaram! E como será no futuro? Podemos afirmar que as redes sociais deram uma voz ativa e alta (muito alta) à população. E será assim daqui em diante. Candidatos e partidos passarão a utilizar estratégias alternativas aos métodos tradicionais de propaganda política. O contato entre partes (candidato x eleitor) foi reduzido, está a um post no Facebook, uma hashtag no Twitter.
É uma nova realidade, com novos investimentos e abordagens que utilizarão toda e qualquer novidade digital que vier a surgir. A mensagem não está mais nas mãos dos outrora poderosos grupos de mídia. Está disseminada, horizontalizada, com acesso facilitado e disponível a interpretações variadas. Discutiremos cada vez sobre política, pois agora temos onde falar. Não dependemos de ninguém para expor o que pensamos sobre um candidato ou uma proposta de governo.
O tempo, ele está mudando.
E a Tutto acompanhará tudo bem de perto, de olho nas novidades digitais que revolucionam nossa sociedade.
Fale com a Tutto e acompanhe as redes sociais oficiais!